São Bento de Urânia tem a maior presença do dialeto vêneto no Estado
A colonização em Alfredo Chaves foi amplamente italiana e o distrito de São Bento de Urânia com maior presença do dialeto vêneto no Espírito Santo. Isso pode ser constado em uma recente pesquisa realizada para uma dissertação de mestrado para a Faculdade Federal do Espírito Santo (Ufes). Confira...
Publicado em 23/09/2015 08:00 - Atualizado em 23/09/2015 13:18
São Bento de Urânia: comunidade com mais presença do dialeto italiano no Estado.
Katiúscia irá apresentar a pesquisa na
foto2]A colonização em Alfredo Chaves foi amplamente italiana e o distrito de São Bento de Urânia com maior presença do dialeto vêneto no Espírito Santo. Isso pode ser constado em uma recente pesquisa realizada para uma dissertação de mestrado para a Faculdade Federal do Espírito Santo (Ufes), desenvolvida pela professora alfredense de língua portuguesa, Katiúscia Sartori Cominotti. Nesse trabalho, ela destacou o distrito de São Bento de Urânia, que fica a 40 km da sede municipal, com maior preserva do dialeto, em terras capixabas.
Para o desenvolvimento do trabalho, a professora conta que foram entrevistadas 90 pessoas da região, entre quatro e 50 anos ou mais de idade. “Escolhi São Bento de Urânia por ser um distrito colonizado somente por italianos. Ao contrário de outros locais do Estado, colonizados por italianos, lá o português se adaptou ao vêneto”, conta.
Segunda ela, os primeiros moradores do distrito só falavam o idioma por anos. “Depois que começou a chegar os portugueses é que as pessoas foram mudando o hábito de falar”, explica.
De acordo com a pesquisadora, por viverem isolados por anos, o dialeto se mantém até hoje no distrito, mas vem se perdendo com o tempo. A grande causa da mudança da linguagem, segundo a pesquisa, é o bullyng sofrido pelos mais jovens nas escolas. “Eles falavam o dialeto durante suas conversas e as pessoas achavam estranho. Inibidos, os moradores mais jovens foram deixando de usar. Muitos conhecem mais não falam. Na pesquisa, os entrevistados apontaram a escola como principal causador do não uso do dialeto”, conta.
Cominotti relata que na década de 20, o então presidente da República, Getúlio Vargas, proibiu o uso de qualquer outro idioma no território brasileiro. Os imigrantes estavam proibidos de falar sua língua mãe. “Dessa forma, os pais e avós deixaram de falar em italiano com os filhos e netos. Isso também aconteceu em São Bento de Urânia, os mais velhos só falavam entre eles, não replicavam a língua aos mais novos com medo de serem perseguidos pelo governo”, disse.
A professora conta que a cultura italiana é muito presente no distrito. “Os moradores têm costume de falar alto, muito religiosos, de casar entre eles e receber bem os visitantes”. A pesquisadora pode também verificar que “os jovens entre 20 e 30 anos conhecem o dialeto, mas não falam, mas gostariam de aprender, pois acham bonito”.
Segundo Cominotti, que irá apresentar a pesquisa em uma faculdade na Itália, o trabalho revelou que os moradores acham mais importante aprender a língua italiana do que a inglesa, em virtude da origem dos seus descendentes.
Um dado curioso da pesquisa mostrou que um dos moradores, hoje com 70 anos, falou o dialeto até seus oito anos de idade, mas hoje ele se reserva a conversar somente em rodas de amigos. A professora verificou durante suas visitas no distrito que alguns moradores, principalmente os mais antigos, utilizam a linguagem italiana com os amigos, após às missas e celebrações dominicais na igreja, em xingamento nas lavouras e em outras ocasiões em suas residências, quando estão entre pessoas bem conhecidas.
“Infelizmente a cultura está se perdendo. Os moradores de São Bento perceberam há pouco tempo a importância da manutenção do dialeto. Eles mesmos se limitavam a usar fora do distrito, com medo de serem repreendidos. Sugiro políticas públicas para resgatarmos essa cultura tão importante para o nosso Estado”, finaliza a pesquisadora.
O vêneto ou veneziano é uma língua românica falada por cerca de cinco milhões de pessoas, principalmente na região do Vêneto, na Itália. A língua é chamada localmente de vèneto (veneto em italiano). Fonte: Wilkipédia.

por Dirceu Cetto | Fotos: Secom PMAC